Famílias que serão removidas do Jardim Pantanal, na Zona Leste, afirmam não saber onde serão realocadas

  • 12/05/2025
(Foto: Reprodução)
Primeiras demolições começam em julho e afetarão mais de 4 mil casas até 2029; famílias dizem que foram surpreendidas. Prefeitura de São Paulo afirma que 'é descabida a afirmação de desconhecimento sobre a proposta'. 3 de fevereiro - Moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, enfrentam terceiro dia seguido de inundações no bairro, que sofre há décadas com os problemas das enchentes. A região com cerca de nove bairros fica numa área de várzea do rio Tietê Fábio Vieira/FotoRua via Estadão Conteúdo Moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, afirmam que foram surpreendidos com o anúncio da Prefeitura de São Paulo sobre a remoção de mais de 4.300 casas na região até 2029. As primeiras demolições, previstas para julho, devem atingir cerca de mil imóveis. Segundo os relatos, a maioria das famílias não foi avisada com antecedência e ainda não sabe para onde será realocada. ✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp "Estão querendo tirar a gente, não sei para onde, mas fazer o quê, né?" afirma a aposentada Erenita Maria da Silva, moradora do bairro. O plano de remoção foi anunciado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) em 7 de maio. A região é conhecida por sofrer com alagamentos e enchentes em épocas de chuvas há mais de 30 anos. O anúncio foi feito após reunião com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o CEO da Sabesp, Carlos Piani, e secretários. A medida faz parte de um projeto para tentar conter os impactos das inundações na área, que fica na várzea do Rio Tietê. A proposta da prefeitura é construir uma barreira de 1 metro de altura e quase 4 km de extensão ao longo de seis comunidades do bairro. O custo estimado da obra é de R$ 32 milhões. “Esse aí foi uma bomba, pegou todo mundo de surpresa. A gente tem que ver a parte dos moradores, mas o mais importante é ver onde vamos realocar essas famílias", afirma Maria José Batista Gomes, líder comunitária. Maria José, líder comunitária. Reprodução/ TV Globo A maior parte das remoções acontecerá na região do Jardim São Martinho, onde estão previstas 2.600 demolições. Muitas casas abrigam várias famílias ao mesmo tempo. “Na minha casa moram oito famílias. Meu genro, minha filha, minhas netas, meus filhos, meu esposo”, disse Jordânia Marques da Silva, moradora da região. Ela só soube que sua residência está no mapa das remoções um dia antes de a reportagem ser gravada. Jôrdani é moradora do Jardim Pantanal. Reprodução/ TV Globo Lideranças comunitárias e organizações que atuam na área afirmam que não foram chamadas para discutir o plano e que a prefeitura não deixou claro se haverá realocação com moradias definitivas ou apenas auxílio-aluguel. Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que "é descabida a afirmação de desconhecimento sobre a proposta", e que o prefeito já havia mencionado a possibilidade de remoções em fevereiro deste ano. A gestão prometeu ainda realizar audiências públicas com lideranças e moradores para discutir o plano e receber sugestões da comunidade. Projeto de remoção Nunes anuncia retirada de famílias do Jardim Pantanal Segundo o prefeito, a operação está prevista para começar em julho e deve seguir até o final de 2029. A primeira fase prevê a retirada de mil imóveis localizados à beira do Rio Tietê, em uma faixa que chega a dois metros de altura e é considerada de risco extremo para enchentes e deslizamentos. “Foi demonstrado pela equipe da Secretaria da Habitação que já houve várias situações em que as famílias foram removidas e, depois, houve nova ocupação dessas áreas. Então, a grande ação agora é retirar essas mil famílias e construir um gabião de 4,2 km que vai delimitar a área, para que não haja mais ocupação e reocupação”, afirmou Nunes. Esse gabião — uma estrutura de contenção com pedras e telas metálicas — será instalado ao longo de 4.200 metros margeando o Jardim Pantanal e bairros vizinhos, servindo como uma barreira física para impedir novas ocupações e construções irregulares. Além disso, viaturas da Guarda Civil Metropolitana Ambiental, da Polícia Militar Ambiental e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) vão reforçar a fiscalização no local para coibir reocupações e o descarte irregular de entulho na região. O projeto de remoção está dividido em três fases: Fase 1 (julho de 2025 a outubro de 2026): remoção de mil imóveis e construção do gabião. Fase 2 (novembro de 2026 a junho de 2028): retirada de mais mil imóveis. Fase 3 (julho de 2028 a dezembro de 2029): remoção de 2.344 imóveis restantes. No total, serão 4.344 imóveis desocupados ao longo dos próximos quatro anos. Atendimento habitacional A Vila Seabra, no Jardim Helena, zona leste de São Paulo, enfrenta o terceiro dia de ruas alagadas, nesta segunda- feira (3), após as fortes chuvas que atingiram a região nos últimos dias. EDI SOUSA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO O prefeito também garantiu que todas as famílias afetadas terão atendimento habitacional garantido, com opções que incluem indenização, auxílio aluguel ou o provimento de moradias por meio da Secretaria Municipal da Habitação, do governo estadual e do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). As enchentes mais recentes, ocorridas no início de 2025, deixaram centenas de moradores do Jardim Pantanal desalojados. Com o transbordamento do Rio Tietê, ruas ficaram submersas por dias, e famílias perderam móveis e bens. A situação reacendeu o debate sobre soluções definitivas para a vulnerabilidade da região. Enchentes históricas O distrito do Jardim Pantanal se estende por nove bairros ao longo da Zona Leste de São Paulo e sofre desde os anos 80 com as grandes enchentes que deixam os moradores embaixo d'água ano após ano. A região deveria ser uma Área de Proteção Ambiental (APA), em que são proibidas construções de casas e ruas. Mas a ocupação irregular e desordenada da cidade transformou a região em um bairro de muitas famílias e comunidades. Os primeiros moradores chegaram à área ainda na década de 80. Nos anos 2000, a situação se agravou com o aumento da ocupação irregular da região. Na nossa série de reportagens sobre o Jardim Pantanal, vamos mostrar a luta de lideranças comunitárias pra melhorar as condições de vida extremamente difíceis E basta chover pouco para a água ocupar as ruas. Sem conseguir retirar os moradores do local, o poder público começou a levar infraestrutura para as margens do rio e construiu conjuntos habitacionais, escolas e piscinões ao longo das últimas décadas. Em uma grande enchente, no ano de 2009, o bairro ficou alagado por mais de 20 dias. A situação foi registrada pela TV Globo na época. Em 2020, o então governador João Doria, ex-PSDB, entregou uma espécie de barreira para tentar segurar as enchentes. Já o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) disse no ano passado que R$ 400 milhões serão investidos em obras, entre elas de drenagem para prevenir cheias na região.

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/05/12/familias-que-serao-removidas-do-jardim-pantanal-na-zona-leste-afirmam-nao-saber-onde-serao-realocadas.ghtml


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